Espiritualidade

Espiritualidade (74)

Sábado, 02 Outubro 2010 17:48

Via-Sacra no Coliseu 2010

Escrito por

DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS
DO SUMO PONTÍFICE

VIA-SACRA
NO COLISEU

PRESIDIDA PELO SANTO PADRE
BENTO XVI

SEXTA-FEIRA SANTA DE 2010

MEDITAÇÕES E ORAÇÕES DE

Sua Eminência Reverendíssima
o Senhor Cardeal
CAMILLO RUINI
Vigário Geral Emérito de Sua Santidade
para a Diocese de Roma

 

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PRIMEIRA ESTAÇÃO
Jesus é condenado à morte

 

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SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus é carregado com a Cruz

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TERCEIRA ESTAÇÃO
Jesus cai pela primeira vez

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QUARTA ESTAÇÃO
Jesus encontra sua Mãe

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QUINTA ESTAÇÃO
Jesus é ajudado por Simão Cireneu
a levar a Cruz

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SEXTA ESTAÇÃO
A Verônica limpa o rosto de Jesus

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SÉTIMA ESTAÇÃO
Jesus cai pela segunda vez

 
alt

OITAVA ESTAÇÃO
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
que choram por Ele

 
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NONA ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez

 
alt

DÉCIMA ESTAÇÃO
Jesus é despojado das suas vestes

 
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DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO
Jesus é pregado na Cruz

 
alt

DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus morre na Cruz

 
alt

DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO
Jesus é descido da Cruz
e entregue a sua Mãe

 
alt

DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO
Jesus é depositado no sepulcro

 

Maria,
Mãe de Jesus Cristo e Mãe dos sacerdotes
recebei este preito que nós Vos tributamos
para celebrar a vossa maternidade
e contemplar junto de Vós o Sacerdócio
do vosso Filho e dos vossos filhos,
ó Santa Mãe de Deus.

Mãe de Cristo,
ao Messias Sacerdote destes o corpo de carne
para a unção do Espírito Santo
a salvação dos pobres e contritos de coração,
guardai no vosso Coração
e na Igreja os sacerdotes,
ó Mãe do Salvador.

Mãe da fé,
acompanhastes ao templo o Filho do Homem,
cumprimento das promessas feitas aos nossos Pais,
entregai ao Pai para Sua glória
os sacerdotes do Filho Vosso,
ó Arca da Aliança.

Mãe da Igreja,
entre os discípulos no Cenáculo,
suplicastes o Espírito
para o Povo novo e os seus Pastores,
alcançai para a ordem dos presbíteros
a plenitude dos dons,
ó Rainha dos Apóstolos.

Mãe de Jesus Cristo,
estivestes com Ele nos inícios
da Sua vida e da Sua missão,
Mestre O procurastes entre a multidão,
assististe-l'O levantado da terra,
consumado para o sacrifício único eterno,
e tivestes perto João, Vosso filho,
acolhei desde o princípio os chamados,
protegei o seu crescimento,
acompanhai na vida e no ministério
os Vossos filhos,
ó Mãe dos sacerdotes.

Amém!

Quarta, 19 Mai 2010 13:15

Oração da Christifidelis Laici

Escrito por
Ó Virgem santíssima,

Mãe de Cristo e Mãe da Igreja,
com alegria e admiração
nos unimos ao teu Magnificat,
ao teu canto de amor reconhecido.

Contigo damos graças a Deus,
« cuja misericórdia se estende
de geração em geração »,
pela maravilhosa vocação

e pela multiforme missão
dos fiéis leigos,
que Deus chamou pelo seu nome
para viverem em comunhão de amor

e de santidade com Ele
e para estarem fraternamente unidos
na grande família dos filhos de Deus,

enviados a irradiar a luz de Cristo
e a comunicar o fogo do Espírito,
em todo o mundo,
por meio da sua vida evangélica.

Virgem do Magnificat,
enche os seus corações
de gratidão e de entusiasmo

por essa vocação e para essa missão.

Tu que foste,
com humildade e magnanimidade,
« a serva do Senhor »,
dá-nos a tua mesma disponibilidade

para o serviço de Deus
e a salvação do mundo.

Abre os nossos corações
às imensas perspectivas
do Reino de Deus

e do anúncio do Evangelho
a toda a criatura.

No teu coração de mãe

estão presentes os tantos perigos
e os muitos males
que esmagam os homens e as mulheres
do nosso tempo.
Mas, estão presentes também
as tantas iniciativas de bem,
as grandes aspirações aos valores,
os progressos feitos
em dar abundantes frutos de salvação.

Virgem corajosa,
inspira-nos força de ânimo
e confiança em Deus,
para que saibamos vencer
todos os obstáculos que encontramos
no cumprimento da nossa missão.
Ensina-nos a tratar as realidades do mundo
com vivo sentido de responsabilidade cristã
e na alegre esperança
da vinda do Reino de Deus,

dos novos céus e da nova terra.

Tu que estiveste no Cenáculo
com os Apóstolos em oração,
à espera da vinda do Espírito de Pentecostes,
invoca a Sua renovada efusão

sobre todos os fiéis leigos,
homens e mulheres,
para que correspondam plenamente
à sua vocação e missão,
como vides da « verdadeira videira »,
chamados a dar « muito fruto »
para a vida do mundo.

Virgem Mãe,
guia-nos e apoia-nos para vivermos sempre

como autênticos filhos e filhas
da Igreja do teu Filho
e podermos contribuir para a implantação
da civilização da verdade e do amor sobre a terra,
segundo o desejo de Deus
e para a Sua glória.
Amém.

Senhor Jesus, Tu és o Caminho!

Em meio a sombras e luzes,

alegrias e esperanças,

tristezas e angústias,

Tu nos levas ao Pai.

Não nos deixes caminhar sozinhos.

Fica conosco, Senhor!

 

Tu és a Verdade!

Desperta nossas mentes

e faze arder nossos corações com a tua Palavra.

Que ela ilumine e aqueça os corações sedentos de justiça e santidade.

Ajuda-nos a sentir a beleza de crer em Ti!

Fica conosco, Senhor!

 

Tu és a Vida!

Abre nossos olhos para te reconhecermos 
no “partir o Pão”,

sublime Sacramento da  Eucaristia!

Alimenta-nos com o Pão da Unidade.

Sustenta-nos em nossa fragilidade.

Consola-nos em nossos sofrimentos,

Faze-nos solidários com os pobres, os oprimidos e excluídos.

Fica conosco, Senhor!

 

Jesus Cristo: Caminho, Verdade e Vida,

No vigor do Espírito Santo,

Faze-nos teus discípulos missionários!

Com a humilde serva do Senhor, nossa Mãe Aparecida, queremos ser:

Alegres  no Caminho  para a Terra Prometida!

corajosas testemunhas da Verdade libertadora!

promotores da Vida em plenitude!

Fica conosco, Senhor!

Amém!

Quarta, 19 Mai 2010 12:49

Oração da Ecclesia in America

Escrito por

Senhor Jesus, nós Vos agradecemos
porque o Evangelho do amor do Pai,
com o qual viestes salvar o mundo,
foi amplamente proclamado por toda a América
como dom do Espírito Santo
que faz florescer a nossa alegria.

Nós Vos damos graças pelo dom da vossa Vida,
que nos oferecestes, amando-nos até ao fim:
ela torna-nos filhos de Deus
e irmãos uns dos outros.

Aumentai, Senhor, a nossa fé e o amor por Vós,
que estais presente em tantos sacrários
do Continente.

Concedei que sejamos fiéis testemunhas
da vossa Ressurreição
aos olhos das novas gerações da América,
para que, conhecendo-Vos, Vos sigam
e encontrem em Vós a sua paz e a sua alegria.
Só assim poderão sentir-se irmãos
de todos os filhos de Deus, dispersos pelo mundo.

Vós que, fazendo-Vos homem, quisestes ser
membro da família humana,
ensinai às famílias as virtudes que resplandeceram
na casa de Nazaré.
Fazei que elas permaneçam unidas,
como Vós e o Pai sois Um,
e sejam testemunho vivo de amor,
de justiça e solidariedade;
fazei que sejam escolas de respeito,
perdão e ajuda recíprocos,
para que o mundo creia;
fazei que sejam fonte de vocações
para o sacerdócio,
para a vida consagrada
e para todos os demais modos
de decidido compromisso cristão.

Protegei a vossa Igreja e o Sucessor de Pedro,
ao qual Vós, Bom Pastor, confiastes
o encargo de apascentar todo o vosso rebanho.

Fazei que a vossa Igreja floresça na América
e multiplique os seus frutos de santidade.

Ensinai-nos a amar a vossa Mãe, Maria,
como A amastes Vós.
Dai-nos força para anunciar corajosamente
a vossa Palavra
ao serviço da nova evangelização,
para consolidar no mundo a esperança.
Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe da América,
rogai por nós!

Quinta, 13 Mai 2010 19:21

Orações Comuns da Igreja

Escrito por

ORAÇÕES COMUNS

 

Sinal da Cruz

Em nome do Pai e do Filho 
e do Espírito Santo. Amém.

Glória ao Pai

Glória ao Pai e ao Filho 
e ao Espírito Santo. 
Como era, no princípio, 
agora e sempre. 
Amém.

Ave Maria

Ave Maria, cheia de graça, 
o Senhor é convosco, 
bendita sois vós entre as mulheres 
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. 
Santa Maria, Mãe de Deus, 
rogai por nós pecadores, 
agora e na hora da nossa morte. Amém.

Ao Anjo da Guarda

Santo Anjo do Senhor, 
meu zeloso guardador, 
pois que a ti me confiou a Piedade divina, 
hoje e sempre 
me governa, rege, guarda e ilumina. 
Amém.

Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso

Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso 
Entre os esplendores da luz perpétua. 
Descansem em paz. Amém.

Angelus (A Trindades)

V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria

R. E Ela concebeu pelo Espírito Santo 
Ave Maria...

V. Eis a escrava do Senhor.

R. Faça-se em mim, 
segundo a Vossa palavra. 
Ave Maria....

V. E o Verbo Divino encarnou.

R. E habitou entre nós. 
Ave Maria.......

V. Rogai por nós, santa Mãe de Deus.

R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos:

Infundi, Senhor, a vossa graça, em nossas almas, 
para que nós, que, pela anunciação do Anjo, 
conhecemos a encarnação de Cristo, 
vosso Filho, 
pela sua paixão e morte na cruz, 
sejamos conduzidos à glória da Ressurreição. 
Pelo mesmo Cristo Senhor nosso. Amém.

Rainha do Céu
(no Tempo Pascal)

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia! 
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia! 
Ressuscitou como disse. Aleluia! 
Rogai por nós a Deus. Aleluia! 
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia! 
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!

Oremos
Ó Deus, que enchestes o mundo de alegria 
com a ressurreição do Vosso Filho, nosso 
Senhor Jesus Cristo, 
concedei, nós vo-lo pedimos, 
que pela intercessão da Virgem Maria, 
Sua Mãe, 
alcancemos as alegrias da vida eterna. 
Por Cristo, Senhor nosso.

Salve Rainha

Salve, Rainha, 
mãe de misericórdia, 
vida, doçura, esperança nossa, salve! 
A Vós bradamos, 
os degredados filhos de Eva. 
A Vós suspiramos, gemendo e chorando 
neste vale de lágrimas. 
Eia, pois, advogada nossa, 
esses Vossos olhos misericordiosos 
a nós volvei. 
E, depois deste desterro, 
nos mostrai Jesus, bendito fruto 
do Vosso ventre. 
Ó clemente, ó piedosa, 
ó doce Virgem Maria. 
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, 
para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Magnificat

A minha alma glorifica ao Senhor 
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. 
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: 
de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: 
Santo é o seu nome. 
A sua misericórdia se estende de geração em geração 
sobre aqueles que O temem. 
Manifestou o poder do seu braço 
e dispersou os soberbos. 
Derrubou os poderosos de seus tronos 
e exaltou os humildes. 
Aos famintos encheu de bens 
e aos ricos despediu de mãos vazias. 
Acolheu Israel seu servo, 
lembrado da sua misericórdia, 
como tinha prometido a nossos pais, 
a Abraão e à sua descendência 
para sempre. 
Glória ao Pai e ao Filho 
e ao Espírito Santo. 
Como era no princípio, agora e sempre. 
Amém.

Sob a Tua Proteção

À Vossa proteção, recorremos, 
Santa Mãe de Deus; 
não desprezeis as nossas súplicas 
em nossas necessidades; 
mas livrai-nos 
de todos os perigos, 
ó Virgem gloriosa e bendita.

Benedictus

Bendito o Senhor Deus de Israel 
que visitou e redimiu o seu povo, 
e nos deu um Salvador poderoso 
na casa de David, seu servo, 
conforme prometeu pela boca 
dos seus santos, 
os profetas dos tempos antigos, 
para nos libertar dos nossos inimigos, 
e das mãos daqueles que nos odeiam. 
Para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, 
recordando a sua sagrada aliança, 
e o juramento que fizera a Abraão, 
nosso pai, 
que nos havia de conceder esta graça: 
de O servirmos um dia, sem temor, 
livres das mãos dos nossos inimigos, 
em santidade e justiça, na sua presença, 
todos os dias da nossa vida. 
E tu, menino, serás chamado profeta 
do Altíssimo, 
porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, 
para dar a conhecer ao seu povo a salvação 
pela remissão dos seus pecados, 
graças ao coração misericordioso 
do nosso Deus, 
que das alturas nos visita 
como sol nascente, 
para iluminar os que jazem nas trevas 
e na sombra da morte 
e dirigir os nossos passos no caminho da paz. 
Glória ao Pai e ao Filho 
e ao Espírito Santo. 
Como era no princípio, 
agora e sempre. Amém.

Te Deum

Nós Vos louvamos, ó Deus, 
nós Vos bendizemos, Senhor. 
Toda a terra Vos adora, 
Pai eterno e onipotente. 
Os Anjos, os Céus 
e todas as Potestades, 
os Querubins e os Serafins 
Vos aclamam sem cessar: 
Santo, Santo, Santo, 
Senhor Deus do Universo, 
o céu e a terra proclamam a vossa glória. 
O coro glorioso dos Apóstolos, 
a falange venerável dos Profetas, 
o exército resplandecente dos Mártires 
cantam os vossos louvores. 
A santa Igreja anuncia por toda a terra 
a glória do vosso nome: 
Deus de infinita majestade, 
Pai, Filho e Espírito Santo. 
Senhor Jesus Cristo, Rei da glória, 
Filho do Eterno Pai, 
para salvar o homem, tomastes 
a condição humana no seio da Virgem Maria. 
Vós despedaçastes as cadeias da morte 
e abristes as portas do céu. 
Vós estais sentado à direita de Deus, 
na glória do Pai, 
e de novo haveis de vir para julgar 
os vivos e os mortos. 
Socorrei os vossos servos, Senhor, 
que remistes com vosso Sangue precioso;
e recebei-os na luz da glória, 
na assembléia dos vossos Santos. 
Salvai o vosso povo, Senhor, 
e abençoai a vossa herança; 
sede o seu pastor e guia através dos tempos 
e conduzi-o às fontes da vida eterna. 
Nós Vos bendiremos todos os dias da nossa vida 
e louvaremos para sempre o vosso nome. 
Dignai-Vos, Senhor, neste dia, livrar-nos do pecado. 
Tende piedade de nós, 
Senhor, tende piedade de nós. 
Desça sobre nós a vossa misericórdia, 
Porque em Vós esperamos. 
Em Vós espero, meu Deus, 
não serei confundido eternamente.

Veni Creator Spiritus

Vem, ó Espírito Santo, 
E da tua luz celeste 
Soltando raios piedosos 
Nossos ânimos reveste. 
Pai carinhoso dos pobres. 
Distribuidor da riqueza, 
Vem, ó luz dos corações, 
Amparar a natureza.

Vem, Consolador supremo, 
Das almas hóspede amável, 
Suavíssimo refrigério 
Do mortal insaciável.

És no trabalho descanso, 
Refresco na calma ardente; 
És no pranto doce alívio 
De um ânimo penitente.

Suave origem do bem, 
Ó fonte da luz divina, 
Enche nossos corações, 
Nossas almas ilumina.

Sem o teu celeste influxo, 
No mortal nada há perfeito; 
A tudo quanto é nocivo 
Está o homem sujeito.

Lava o que nele há de impuro, 
Quanto há de árido umedece; 
Sara-lhe quanto é moléstia, 
Quanto na vida padece.

O que há de dureza abranda, 
O que há de mais frio aquece; 
Endireita o desvairado 
Que o caminho desconhece.

Os sete dons com que alentas 
Os que humildes te confessam, 
Aos teus devotos concede 
Sempre fiéis to mereçam.

Por virtudes merecidas, 
Dá-lhes fim que leve aos Céus; 
Dá-lhes eternas delícias 
Que aos bons prometes, meu Deus.

Vem, Espírito Santo
(Seqüência de Pentecostes)

Vinde, ó santo Espírito, 
vinde Amor ardente, 
acendei na terra vossa luz fulgente. 
Vinde, Pai dos pobres: 
na dor e aflições, 
vinde encher de gozo 
nossos corações. 
Benfeitor supremo 
em todo o momento, 
habitando em nós 
sois o nosso alento. 
Descanso na luta 
e na paz encanto, 
no calor sois brisa, 
conforto no pranto. 
Luz de santidade, 
que no Céu ardeis, 
abrasai as almas 
dos vossos fiéis, 
Sem a vossa força 
e favor clemente, 
nada há no homem 
que seja inocente. 
Lavai nossas manchas, 
a aridez regai, 
sarai os enfermos 
e a todos salvai. 
Abrandai durezas 
para os caminhantes, 
animai os tristes, 
guiai os errantes. 
Vossos sete dons 
concedei à alma 
do que em Vós confia: 
Virtude na vida, 
amparo na morte, 
no Céu alegria.

Alma de Cristo

Alma de Cristo, santificai-me. 
Corpo de Cristo, salvai-me. 
Sangue de Cristo, inebriai-me. 
Água do lado de Cristo, lavai-me 
Paixão de Cristo, confortai-me. 
Ó bom Jesus, ouvi-me. 
Dentro das Vossas chagas, escondei-me. 
Não permitais que eu me separe de Vós. 
Do inimigo maligno defendei-me. 
Na hora da minha morte, chamai-me. 
Mandai-me ir para Vós, 
Para que Vos louve com os Vossos Santos 
Pelos séculos dos séculos. Amém.

Lembrai-vos

Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, 
que nunca se ouviu dizer que algum 
daqueles que tenha recorrido à Vossa proteção, 
implorado a Vossa assistência e reclamado o Vosso socorro, 
fosse por Vós desamparado.

Animado eu, pois, de igual confiança, 
a Vós, Virgem entre todas singular, 
como a Mãe recorro, de Vós me valho, 
e, gemendo sob o peso dos meus pecados, 
me prostro aos Vossos pés. 
Não desprezeis as minhas súplicas, 
ó Mãe do Filho de Deus humanado, 
mas dignai- Vos de as ouvir propícia 
e de me alcançar o que Vos rogo. Amém.

Rosário

Mistérios Gozosos
(Segundas e Sábados)

A anunciação do Anjo à Virgem Maria. 
A visita de Maria a Santa Isabel. 
O nascimento de Jesus em Belém. 
A apresentação de Jesus no Templo. 
A perda e encontro de Jesus no Templo.

Mistérios da Luz
(Quintas Feiras)

O batismo de Jesus no Jordão. 
A auto-revelação de Jesus nas bodas de Caná. 
O anúncio do Reino e o convite à conversão. 
A transfiguração de Jesus no Tabor. 
A instituição da Eucaristia.

Mistérios Dolorosos
(Terças e Sextas)

Agonia de Jesus no Horto das Oliveiras. 
Flagelação de Jesus, preso à coluna. 
Coroação de espinhos. 
Jesus carrega a cruz a caminho do Calvário. 
Jesus é crucificado e morre na cruz.

Mistérios Gloriosos
(Quartas e Domingo )

A ressurreição de Jesus. 
A ascensão de Jesus ao céu. 
A descida do Espírito Santo. 
A assunção da Santíssima Virgem ao céu. 
A coroação de Nossa Senhora, 
como Rainha do céu e da terra.

Oração no fim do Santo Rosário

D./ Rogai por nós, santa Mãe de Deus. 
C./ Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos:

Ó Deus, que, pela vida, morte e ressurreição do Vosso Filho Unigênito, nos adquiristes o prêmio da salvação eterna: concedei-nos, Vos pedimos, que venerando os mistérios do santíssimo Rosário da Virgem Maria, imitemos o que eles contêm e alcancemos o que eles prometem. Por Cristo Senhor nosso. Amém.

Oração do Incenso
(Tradição Copta)

Ó Rei da paz, concedei-nos a Vossa paz e perdoai os nossos pecados. Afugentai os inimigos da Igreja e defendei-a, para que não pereça. O Emanuel, nosso Deus, está no meio de nós na glória do Pai e do Espírito Santo. Ele nos abençoe, purifique o nosso coração e cure as doenças da alma e do corpo. Nós Vos adoramos, ó Cristo, com o Vosso Pai misericordioso e o Espírito Santo, porque viestes até junto de nós e nos salvastes.

Oração de «Adeus ao Altar», antes de deixar a Igreja após a liturgia
(Tradição Siro-Maronita)

Permanece em paz, ó Altar de Deus. A oblação que de ti recebi me sirva para remissão das ofensas e perdão dos pecados, e me obtenha a graça de comparecer diante do tribunal de Cristo sem condenação e sem confusão. Não sei se me será concedido voltar e oferecer sobre ti um outro Sacrifício. Protegei-me, Senhor, e conservai a Vossa Igreja, como caminho de verdade e salvação. Amém.

Oração pelos Defuntos
(Tradição bizantina)

Ó Deus dos espíritos e de toda a carne, que vencestes a morte, aniquilastes o diabo e destes a vida ao mundo; Vós, ó Senhor, concedei à alma do Vosso servo N. defunto o descanso num lugar luminoso, num lugar verdejante, num lugar de frescura, onde não há sofrimento, dor e gemidos.

Porque sois um Deus bom e misericordioso, perdoai toda a culpa por ele cometida em palavras, obras ou pensamentos, uma vez que não há homem que não peque, que só Vós sois sem pecado, a Vossa justiça é justiça eterna e a Vossa palavra é a verdade.

Vós que sois a ressurreição, a vida e o repouso do Vosso servo N. defunto, ó Cristo nosso Deus, nós Vos damos glória, em comunhão com o Vosso Pai ingênito e com o Vosso santíssimo bom e vivificante Espírito, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Descanse em paz. Amém.

Ato de Fé

Meu Deus, eu creio tudo o que Vós revelastes e a Santa Igreja nos ensina, porque não podeis enganar-Vos nem enganar-nos.

E, expressamente, creio em Vós, único e verdadeiro Deus em três pessoas iguais e distintas: Pai, Filho e Espírito Santo; e creio em Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado, morto e ressuscitado por nós, e que a cada um dará, segundo as suas obras, o prêmio ou o castigo eterno. Nesta fé quero viver e morrer.

Senhor, aumentai a minha fé. Amém.

Ato de Esperança

Meu Deus, porque sois onipotente, infinitamente misericordioso e fidelíssimo às Vossas promessas, eu espero da Vossa bondade que, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, nosso Salvador, me dareis a vida eterna e as graças necessárias para a alcançar, como prometestes aos que praticassem as boas obras, que eu me proponho realizar ajudado com o auxílio da Vossa divina graça. Senhor, minha esperança, na qual quero viver e morrer: jamais serei confundido. Amém.

Ato de Caridade

Meu Deus, porque sois infinitamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas, eu Vos amo de todo o meu coração, a exemplo de Jesus; e, por Vosso amor, amo também o meu próximo como a mim mesmo. Senhor, fazei que eu Vos ame cada vez mais. Amém.

Ato de Contrição

Meu Deus, porque sois infinitamente bom e Vos amo de todo o meu coração, pesa-me de Vos ter ofendido e, com o auxílio da Vossa divina graça, proponho firmemente emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender. Peço e espero o perdão das minhas culpas pela Vossa infinita misericórdia. Amém.

Quinta, 13 Mai 2010 19:33

Oração da Encíclica Evangelium Vitae

Escrito por

ORAÇÃO FINAL EVANGELIUM VITAE

 

Ó Maria, 
aurora do mundo novo, 
Mãe dos viventes, 
confiamo-Vos a causa da vida:
olhai, Mãe, 
para o número sem fim 
de crianças a quem é impedido nascer, 
de pobres para quem se torna difícil viver, 
de homens e mulheres 
vítimas de inumana violência, 
de idosos e doentes assassinados 
pela indiferença 
ou por uma presunta compaixão. 
Fazei com que todos aqueles que crêem 
no vosso Filho 
saibam anunciar com desassombro e amor 
aos homens do nosso tempo 
Evangelho da vida.
Alcançai-lhes a graça de o acolher
como um dom sempre novo, 
a alegria de o celebrar com gratidão 
em toda a sua existência, 
e a coragem para o testemunhar
com laboriosa tenacidade, 
para construírem, 
juntamente com todos os homens 
de boa vontade, 
a civilização da verdade e do amor, 
para louvor e glória de Deus Criador 
e amante da vida.

Quarta, 23 Março 2011 19:06

São Francisco de Sales

Escrito por

São Francisco de Sales

Amados irmãos e irmãs

so_francisco_de_sales«Dieu est le Dieu du coeur humain» [Deus é o Deus do coração humano] (Tratado do Amor de Deus, I, XV): nestas palavras aparentemente simples vemos a característica da espiritualidade de um grande mestre, do qual gostaria de vos falar hoje: são Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja. Nasceu em 1567, numa região francesa de fronteira, filho do Senhor de Boisy, antiga e nobre família de Sabóia. Viveu entre dois séculos, XVI-XVII, e reuniu em si o melhor dos ensinamentos e das conquistas culturais do século que terminava, reconciliando a herança do humanismo com o impulso rumo ao absoluto, próprio das correntes místicas. A sua formação foi muito atenta; realizou os estudos superiores em Paris, dedicando-se também à teologia, e na Universidade de Pádua fez os estudos de jurisprudência, como desejava o pai, concluindo-os de modo brilhante, com uma licenciatura in utroque iure, direito canónico e direito civil. Na sua juventude harmoniosa, ponderando sobre o pensamento dos santos Agostinho e Tomás de Aquino, teve uma crise profunda que o levou a interrogar-se sobre a própria salvação eterna e acerca da predestinação de Deus no que se lhe referia, padecendo como verdadeiro drama espiritual as principais questões teológicas da sua época. Rezava intensamente, mas a dúvida atormentou-o de maneira tão forte, que durante algumas semanas praticamente não conseguiu comer nem dormir. No ápice da provação foi à igreja dos Dominicanos, em Paris, abriu o seu coração e orou assim: «Aconteça o que acontecer, Senhor, Vós que tendes tudo nas vossas mãos, e cujos caminhos são justiça e verdade; independentemente do que tiverdes estabelecido a meu propósito...; Vós que sois sempre Juiz justo e Pai misericordioso, amar-vos-ei, ó Senhor […] amar-vos-ei aqui, ó meu Deus, e esperarei sempre na vossa misericórdia, e repetirei sempre o vosso louvor... Ó Senhor Jesus, Vós sereis sempre a minha esperança e a minha salvação, na terra dos vivos» (I Proc. Canon., vol. I, art 4). Francisco, então com vinte anos, encontrou a paz na realidade radical e libertadora do amor de Deus: amá-lo sem nada pedir em troca, confiando no amor divino; já não perguntar o que Deus fará de mim: amo-O simples e independentemente de quanto Ele me concede ou não. Assim encontrou a paz, e a questão da predestinação — sobre a qual se debatia naquela época — tinha sido resolvida, porque ele não buscava mais do que podia receber de Deus; amava-O simplesmente, abandonando-se à sua bondade. E este será o segredo da sua vida, que transparecerá na sua obra principal: o Tratado do amor de Deus.

Vencendo as resistências do pai, Francisco seguiu o chamamento do Senhor e, no dia 18 de Dezembro de 1593, foi ordenado sacerdote. Em 1602 tornou-se Bispo de Genebra, num período em que a cidade era uma fortaleza do Calvinismo, a tal ponto que a sede episcopal se encontrava «no exílio», em Annecy. Pastor de uma diocese pobre e atormentada, na paisagem montanhosa da qual conhecia bem tanto a dureza como a beleza, ele escreve: «Encontrei-O [Deus] repleto de candor e suavidade, no meio das nossas montanhas mais altas e íngremes, onde muitas almas simples O amavam e adoravam com toda a verdade e sinceridade; cabritos-monteses e corças corriam aqui e ali, no meio de geleiras assustadoras, para anunciar os seus louvores» (Carta à Madre de Chantal, Outubro de 1606, em Oeuvres, Ed. Mackey, T. XIII, p. 223). E no entanto, a influência da sua vida e do seu ensinamento na Europa dessa época e dos séculos seguintes parece imensa. É apóstolo, pregador, escritor, homem de acção e de oração; comprometido na realização dos ideais do Concílio de Trento; empenhado na controvérsia e no diálogo com os protestantes, experimentando cada vez mais, para além do necessário confronto teológico, a eficácia da relação pessoal e da caridade; encarregado de missões diplomáticas a nível europeu, e de tarefas sociais de mediação e de reconciliação. Mas sobretudo, são Francisco de Sales é guia de almas: do encontro com uma jovem, a senhora de Charmoisy, encontrará inspiração para escrever um dos livros mais lidos na era moderna, a Introdução à vida devota; da sua profunda comunhão espiritual com uma personalidade extraordinária, santa Joana Francisca de Chantal, nascerá uma nova família religiosa, a Ordem da Visitação, caracterizada — como o santo desejava — por uma consagração total a Deus, vivida na simplicidade e na humildade, a cumprir extraordinariamente bem as tarefas ordinárias: «…quero que as minhas Filhas — escreve — não tenham outro ideal, a não ser o de glorificar [Nosso Senhor] com a sua humildade» (Carta a mons. de Marquemond, Junho de 1615). Faleceu em 1622, com cinquenta e cinco anos de idade, depois de uma existência marcada pela dureza dos tempos e da obra apostólica.

A vida de são Francisco de Sales foi relativamente breve, mas vivida com grande intensidade. Da figura deste santo emana uma impressão de rara plenitude, demonstrada na tranquilidade da sua investigação intelectual, mas também na riqueza dos seus afectos, na «docilidade» dos seus ensinamentos, que tiveram uma grande influência sobre a consciência cristã. Da palavra «humanidade» ele encarnou várias acepções que, tanto hoje como ontem, este termo pode adquirir: cultura e cortesia, liberdade e ternura, nobreza e solidariedade. No aspecto tinha algo da majestosidade da paisagem em que viveu, conservando também a sua simplicidade e naturalidade. As antigas palavras e imagens com que se expressava ressoam inesperadamente, até aos ouvidos do homem contemporâneo, como uma língua nativa e familiar.

Na Filotea, destinatária ideal da sua Introdução à vida devota (1607), Francisco de Sales dirige um convite que, nessa época, podia parecer revolucionário. Trata-se do convite a pertencer completamente a Deus, vivendo em plenitude a presença no mundo e as tarefas da sua condição. «A minha intenção é de instruir aqueles que vivem nas cidades, no estado conjugal, na corte […]» (Prefácio da Introdução à vida devota). O Documento com que o Papa Pio ix, mais de dois séculos depois, o proclamará Doutor da Igreja, insistirá sobre esta ampliação da chamada à perfeição, à santidade. Nele está escrito: «[A verdadeira piedade] chegou a penetrar até no trono dos reis, na tenda dos chefes dos exércitos, no pretório dos juízes, nos escritórios, nas oficinas e nas cabanas dos pastores […]» (Breve Dives in misericordia, 16 de Novembro de 1877). Assim nascia aquele apelo aos leigos, o cuidado pela consagração das realidades temporais e pela santificação da vida diária, sobre o qual insistirão depois o Concílio Vaticano II e a espiritualidade do nosso tempo. Manifestava-se o ideal de uma humanidade reconciliada, na sintonia entre acção no mundo e oração, entre condição secular e busca da perfeição, com a ajuda da Graça de Deus, que permeia o humano e, sem o destruir, o purifica, elevando-o às alturas divinas. A Teótimo, o cristão adulto, espiritualmente maduro, ao qual dirige alguns anos depois o seu Tratado do amor de Deus (1616), são Francisco de Sales oferece uma lição mais complexa. Ela supõe, no início, uma visão específica do ser humano, uma antropologia: a «razão» do homem, aliás, a sua «alma razoável», é aí vista como uma construção harmoniosa, um templo subdividido em vários espaços, ao redor de um centro ao qual ele chama, juntamente com os grandes místicos, «cimo», «ponta» do espírito, ou «fundo» da alma. É o ponto em que a razão, percorrendo todas as suas fases, «fecha os olhos» e o conhecimento se torna um só com o amor (cf. livro I, cap. XII). Que o amor, na sua dimensão teologal e divina seja a razão de ser de todas as realidades, numa escada ascendente que não parece conhecer fracturas nem abismos, são Francisco de Sales resumiu-o nesta frase célebre: «O homem é a perfeição do universo; o espírito é a perfeição do homem; o amor é a do espírito, e a caridade a do amor» (Ibid., livro X, cap. I).

Num período de intenso florescimento místico, o Tratado do amor de Deus é uma verdadeira suma, e ao mesmo tempo uma obra literária fascinante. A sua descrição do itinerário rumo a Deus começa a partir do reconhecimento da «inclinação natural» (Ibid., livro I, cap. XVI), inscrita no coração do homem, também do pecador, a amar a Deus acima de todas as coisas. Segundo o modelo da Sagrada Escritura, são Francisco de Sales fala da união entre Deus e o homem, desenvolvendo toda uma série de imagens de relação interpessoal. O seu Deus é pai e senhor, esposo e amigo, tem características maternas e de nutriz, é o sol do qual até a noite é uma misteriosa revelação. Este Deus atrai o homem a Si com vínculos de amor, ou seja, de verdadeira liberdade: «Pois o amor não tem forçados nem escravos, mas reduz tudo à sua obediência com um vigor tão delicioso que, se nada é tão forte como o amor, nada é tão amável como a sua força» (Ibid., livro I, cap. VI). No Tratado do nosso santo encontramos uma meditação profunda sobre a vontade humana e a descrição do seu fluir, passar e morrer para viver (cf. ibid., livro IX, cap. XIII) no abandono completo não apenas à vontade de Deus, mas àquilo que é do seu agrado, ao seu «bon plaisir», ao seu beneplácito (cf. ibid., livro IX, cap. I). No ápice da união com Deus, além dos arrebatamentos da êxtase contemplativa, coloca-se aquele fluxo de caridade concreta, que se faz atenta a todas as necessidades do próximo, à qual ele chama «êxtase da vida e das obras» (Ibid., livro VII, cap. VI).

Lendo o livro sobre o amor de Deus e ainda mais as numerosas cartas de guia e de amizade espiritual, compreende-se bem como são Francisco de Sales foi um grande conhecedor do coração humano. A santa Joana de Chantal, a quem escreve: «[…] Eis a regra da nossa obediência, que te escrevo com caracteres grandes: fazer tudo por amor, nada por força — amar mais a obediência do que temer a desobediência. Deixo-te o espírito de liberdade, não aquele que exclui a obediência, porque ela é a liberdade do mundo; mas aquele que exclui a violência, a ansiedade e o escrúpulo» (Carta, 14 de Outubro de 1604). Não é por acaso que, na origem de muitas formas da pedagogia e da espiritualidade do nosso tempo, encontramos precisamente o vestígio deste mestre, sem o qual não teriam existido são João Bosco, nem o heróico «pequeno caminho» de santa Teresa de Lisieux.

Caros irmãos e irmãs, num período como o nosso que procura a liberdade, mesmo com violência e inquietação, não deve passar despercebida a actualidade deste grande mestre de espiritualidade e de paz, que transmite aos seus discípulos o «espírito de liberdade», aquela verdadeira, no ápice de um ensinamento fascinante e completo sobre a realidade do amor. São Francisco de Sales é uma testemunha exemplar do humanismo cristão; com o seu estilo familiar, com parábolas que às vezes têm as asas da poesia, recorda que o homem traz inscrita no profundo de si mesmo a saudade de Deus, e que somente nele encontra a alegria autêntica e a sua realização mais completa.

Quarta, 23 Março 2011 18:55

São Roberto Belarmino

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São Roberto Belarmino

Queridos irmãos e irmãs,

São Roberto Belarmino, de quem desejo falar-vos hoje, leva-nos com a memória ao tempo da dolorosa cisão da cristandade ocidental, quando uma grave crise política e religiosa provocou a separação de nações inteiras da Sé Apostólica.

so_roberto_belarminoNasceu a 4 de Outubro de 1542 em Montepulciano, nos arredores de Sena, e era sobrinho por parte da mãe do Papa Marcelo II. Recebeu uma excelente formação humanística antes de entrar na Companhia de Jesus, a 20 de Setembro de 1560. Os estudos de filosofia e teologia, que completou entre o Colégio Romano, Pádua e Lovaina, centrados sobre s. Tomás e os Padres da Igreja, foram decisivos para a sua orientação teológica. Ordenado sacerdote a 25 de Março de 1570, foi durante alguns anos professor de teologia em Lovaina. Sucessivamente, tendo sido chamado a Roma como professor no Colégio Romano, foi-lhe confiada a cátedra de «Apologética»; na década em que desempenhou tal cargo (1576–1586), elaborou um curso de lições que depois confluíram nas Controversiae, obra que se tornou imediatamente célebre pela clareza e riqueza de conteúdo e pela sua tonalidade predominantemente histórica. O Concílio de Trento tinha terminado há pouco tempo e para a Igreja católica era necessário revigorar e confirmar a sua identidade, também em relação à Reforma protestante. A obra de Belarmino inseriu-se neste contexto. De 1588 a 1594 foi inicialmente padre espiritual dos estudantes jesuítas do Colégio Romano, entre os quais encontrou e orientou são Luís Gonzaga, e depois superior religioso. O Papa Clemente VIII nomeou-o teólogo pontifício, consultor do Santo Ofício e reitor do Colégio dos Penitenciários da Basílica de São Pedro. Ao biénio de 1597–1598 remonta o seu catecismo, Doutrina cristã breve, que foi a sua obra mais popular.

No dia 3 de Março de 1599 foi criado cardeal pelo Papa Clemente VIII e, a 18 de Março de 1602, nomeado arcebispo de Cápua. Recebeu a ordenação episcopal em 21 de Abril desse mesmo ano. Durante os três anos em que foi bispo diocesano, distinguiu-se pelo zelo de pregador na sua catedral, pela visita que realizava semanalmente às paróquias, pelos três Sínodos diocesanos e um Concílio provincial que promoveu. Depois de ter participado nos conclaves que elegeram Papas Leão XI e Paulo V, foi novamente chamado a Roma, para ser membro das Congregações do Santo Ofício, para o Índex, os Ritos, os Bispos e a Propagação da Fé. Desempenhou inclusive funções diplomáticas, junto da República de Veneza e da Inglaterra, em defesa dos direitos da Sé Apostólica. Nos seus últimos anos, compôs vários livros de espiritualidade, nos quais condensou o fruto dos seus exercícios espirituais anuais. Com a sua leitura o povo cristão ainda hoje se sente muito edificado. Faleceu em Roma, no dia 17 de Setembro de 1621. O Papa Pio XI beatificou-o em 1923, canonizou-o em 1930 e proclamou-o Doutor da Igreja em 1931.

São Roberto Belarmino desempenhou um papel importante na Igreja das últimas décadas do século XVI e do início do século seguinte. As suas Controversiae constituem um ponto de referência, ainda hoje válido, para a eclesiologia católica sobre as questões relativas à Revelação, à natureza da Igreja, aos Sacramentos e à antropologia teológica. Nelas é acentuado o aspecto institucional da Igreja, por causa dos erros que então circulavam a propósito de tais questões. Todavia, Belarmino esclareceu também os aspectos invisíveis da Igreja como Corpo místico e explicou-os com a analogia do corpo e da alma, com a finalidade de descrever a relação entre as riquezas interiores da Igreja e os aspectos exteriores que a tornam perceptível. Nesta obra monumental, que procura sistematizar as várias controvérsias teológicas dessa época, ele evita toda a abordagem polémica e agressiva em relação às ideias da Reforma, mas utilizando os argumentos da razão e da Tradição da Igreja, ilustra a doutrina católica de modo claro e eficaz.

Todavia, a sua herança consiste no modo como concebeu o seu trabalho. Com efeito, as gravosas funções de governo não o impediram de tender, quotidianamente, para a santidade com a fidelidade às exigências da própria condição de religioso, sacerdote e bispo. É desta fidelidade que provém o seu compromisso na pregação. Dado que, como sacerdote e bispo, é antes de tudo um pastor de almas, sentia o dever de pregar assiduamente. Pregou centenas de sermones — homilias — na Flandres, em Roma, em Nápoles e em Cápua, por ocasião das celebrações litúrgicas. Não menos abundantes são as suas expositiones e as explanationes aos párocos, às religiosas e aos estudantes do Colégio Romano, que têm com frequência como objecto a Sagrada Escritura, especialmente as Cartas de são Paulo. A sua pregação e as suas catequeses apresentam aquela mesma índole de essencialidade, que tinha aprendido da educação inaciana, inteiramente destinada a concentrar as forças da alma sobre o Senhor Jesus, intensamente conhecido, amado e imitado.

Nos escritos deste homem de governo sente-se de modo muito claro, apesar da reserva por detrás da qual ele esconde os seus sentimentos, o primado que ele assegura aos ensinamentos de Cristo. Assim, são Roberto Belarmino oferece um modelo de oração, alma de todas as actividades: uma oração que ouve a Palavra do Senhor, que se satisfaz ao contemplar a sua grandeza, que não se fecha em si mesma, mas tem a alegria de se abandonar a Deus. Um sinal distintivo da espiritualidade de Belarmino é a percepção viva e pessoal da imensa bondade de Deus, pelo que o nosso santo se sentia verdadeiramente filho amado de Deus e o recolher-se com serenidade e simplicidade, em oração, em contemplação de Deus era para ele fonte de grande alegria. No seu livro De ascensione mentis in Deum — Elevação da mente a Deus — composto segundo o esquema do Itinerarium de são Boaventura, exclama: «Ó alma, o teu exemplar é Deus, beleza infinita, luz sem sombras, esplendor que supera aquele da lua e do sol. Eleva os olhos a Deus, em quem se encontram os arquétipos de todas as coisas e do qual, como de uma fonte de fecundidade infinita, deriva esta variedade quase infinita das coisas. Portanto, deve concluir: quem encontra Deus, encontra tudo; quem perde Deus, perde tudo».

Neste texto sente-se o eco da célebre contemplatio ad amorem obtineundum — contemplação para alcançar o amor — dos Exercícios espirituais de santo Inácio de Loyola. Belarmino, que vive na sociedade opulenta e frequentemente malsã do último período do século xvi e do primeiro período do século XVII, desta contemplação haure aplicações práticas e projecta a situação da Igreja do seu tempo com um vigoroso ímpeto pastoral. No livro De arte bene moriendi — A arte de morrer bem — por exemplo, indica como norma segura do bom viver, e também do bom morrer, a meditação frequente e séria, de que se deverá prestar contas a Deus das próprias acções e do próprio modo de viver, e procurar não acumular riquezas nesta terra, mas viver com simplicidade e com caridade, de maneira a acumular bens no Céu. No livro De gemitu columbae — O gemido da pomba, onde a pomba representa a Igreja — exorta com força o clero e todos os fiéis a uma reforma pessoal e concreta da própria vida, seguindo aquilo que ensinam a Escritura e os Santos, entre os quais em particular são Gregório de Nazianzo, são João Crisóstomo, são Jerónimo e santo Agostinh, além dos grandes fundadores de Ordens religiosas, como são Bento, são Domingos e são Francisco. Belarmino ensina com grande clareza e com o exemplo da sua própria vida, que não pode haver uma verdadeira reforma da Igreja, se antes não houver a nossa reforma pessoal e a conversão do nosso coração.

Dos Exercícios espirituais de santo Inácio, Belarmino hauria conselhos para comunicar de modo profundo, até aos mais simples, a beleza dos mistérios da Fé. Ele escreve: «Se tens sabedoria, compreendes que foste criado para a glória de Deus e para a tua salvação eterna. Esta é a tua finalidade, este é o centro da tua alma, este é o tesouro do teu coração. Por isso, considera verdadeiro bem para ti aquilo que te conduz para o teu fim, e verdadeiro mal aquilo que te priva dele. Acontecimentos prósperos ou adversos, riquezas e pobrezas, saúde e doença, honras e ofensas, vida e morte, o sábio não deve procurá-los nem rejeitá-los para si mesmo. Mas só são bons e desejáveis, se contribuírem para a glória de Deus e para a tua felicidade eterna; são maus e devem ser evitados, se a impedirem» (De ascensione mentis in Deum, grad. 1).

Obviamente, não se trata de palavras que passaram de moda, mas palavras que hoje devemos meditar prolongadamente, para orientar o nosso caminho nesta terra. Elas recordam-nos que a finalidade da nossa vida é o Senhor, o Deus que se revelou em Jesus Cristo, em quem Ele continua a chamar-nos e a prometer-nos a comunhão com Ele. Estas palavras recordam-nos a importância de confiar no Senhor, de levar uma vida fiel ao Evangelho, de aceitar e iluminar com a fé e com a oração todas as circunstâncias e todas as obras da nossa vida, sempre orientados para a união com Ele. Amém!

São João da Cruz

Queridos irmãos e irmãs,

duas semanas apresentei a figura da grande mística espanhola Teresa de Jesus. Hoje gostaria de falar de outro importante santo daquelas terras, amigo espiritual de santa Teresa, reformador com ela da família religiosa carmelita: são João da Cruz, proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio xi em 1926, e chamado na tradição Doctor mysticus, «Doutor místico».

João da Cruz nasceu em 1542 no povoado de Fontiveros, perto de Ávila, na Velha Castela, de Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. A família era extremamente so_joo_da_cruzpobre porque o pai, de nobre origem de Toledo, tinha sido expulso de casa e deserdado por ter casado com Catalina, uma humilde tecelã de seda. Órfão de pai em tenra idade, com nove anos, transferiu-se com a mãe e o irmão Francisco para Medina del Campo, perto de Valladolid, centro comercial e cultural. Ali frequentou o Colegio de los Doctrinos, desempenhando também alguns trabalhos humildes para as irmãs da igreja-convento da Madalena. Em seguida, considerando as suas qualidades humanas e os seus resultados nos estudos, foi admitido primeiro como enfermeiro no Hospital da Conceição, depois no Colégio dos Jesuítas, recém-fundado em Medina del Campo: ali João entrou com dezoito anos e estudou ciências humanas, retórica e línguas clássicas durante três anos. No final da formação, ele viu claramente qual era a sua vocação: a vida religiosa e, entre as muitas ordens presentes em Medina, sentiu-se chamado ao Carmelo.

No Verão de 1563 começou o noviciado com os Carmelitas da cidade, assumindo o nome religioso de João de São Matias. No ano seguinte foi destinado à prestigiosa Universidade de Salamanca, onde por três anos estudou artes e filosofia. Em 1567 foi ordenado sacerdote e voltou a Medina del Campo para celebrar a sua primeira Missa circundado pelo carinho dos familiares. Precisamente ali teve lugar o primeiro encontro entre João e Teresa de Jesus. O encontro foi decisivo para ambos: Teresa expôs-lhes o seu plano de reforma do Carmelo também no ramo masculino da Ordem e propôs a João que se adaptasse «para maior glória de Deus»; o jovem sacerdote ficou fascinado pelas ideias de Teresa, a ponto de se tornar um grande defensor do projecto. Os dois trabalharam juntos alguns meses, compartilhando ideais e propostas para inaugurar quanto antes possível a primeira casa de Carmelitas Descalços: a abertura ocorreu a 28 de Dezembro de 1568 em Duruelo, lugar solitário da província de Ávila. Com João formavam esta primeira comunidade masculina reformada outros três companheiros. Ao renovar a sua profissão religiosa segundo a Regra primitiva, os quatro assumiram um novo nome: Então, João denominou-se «da Cruz», como depois será conhecido universalmente. No final de 1572, a pedido de santa Teresa, tornou-se confessor e vigário do mosteiro da Encarnação em Ávila, onde a santa era priora. Foram anos de estreita colaboração e amizade espiritual, que a ambos enriqueceram. A esse período remontam inclusive as mais importantes obras teresianas e os primeiros escritos de João.

A adesão à reforma carmelita não foi fácil, e causou a João também graves sofrimentos. O episódio mais traumático foi, em 1577, o seu rapto e aprisionamento no convento dos Carmelitas de Antiga Observância de Toledo, devido a uma acusação injusta. O santo permaneceu preso durante meses, submetido a privações e constrições físicas e morais. Ali compôs, além de outras poesias, o célebre Cântico espiritual. Finalmente, na noite entre 16 e 17 de Agosto de 1578, conseguiu fugir de modo aventuroso, refugiando-se no mosteiro das Carmelitas Descalças da cidade. Santa Teresa e os companheiros reformados celebraram com imensa alegria a sua libertação e, após um breve período de recuperação das forças, João foi destinado para a Andalusia, onde transcorreu dez anos em vários conventos, especialmente em Granada. Assumiu cargos cada vez mais importantes na Ordem, até se tornar Vigário provincial, e completou a redacção dos seus tratados espirituais. Depois, voltou para a sua terra natal, como membro do governo geral da família religiosa teresiana, que já gozava de plena autonomia jurídica. Habitou no Carmelo de Segóvia, desempenhando a função de superior daquela comunidade. Em 1591 foi eximido de qualquer responsabilidade e destinado à nova Província religiosa do México. Enquanto se preparava para a longa viagem com outros dez companheiros, retirou-se num convento solitário perto de Jaén, onde adoeceu gravemente. João enfrentou com serenidade e paciência exemplares normes sofrimentos. Falceu na noite entre 13 e 14 de Dezembro de 1591, enquanto os irmãos de hábito recitavam o Ofício matutino. Despediu-se deles, dizendo: «Hoje vou cantar o Ofício no Céu». Os seus restos mortais foram trasladados para Segóvia. Foi beatificado por Clemente x em 1675 e canonizado por Bento XIII em 1726.

João é considerado um dos mais importantes poetas líricos da literatura espanhola. As obras principais são quatro: Subida ao Monte Carmelo, Noite obscura, Cântico espiritual e Chama de amor viva.

No Cântico espiritual, são João apresenta o caminho de purificação da alma, ou seja, a posse progressiva e jubilosa de Deus, até que a alma chegue a sentir que ama a Deus com o mesmo amor com que é por Ele amada. A Chama de amor viva continua nesta perspectiva, descrevendo mais pormenorizadamente o estado de união transformadora com Deus. A comparação utilizada por João é sempre a do fogo: assim como o fogo, quanto mais arde e consome a madeira, tanto mais se torna incandescente até se tornar chama, também o Espírito Santo, que durante a noite obscura purifica e «limpa» a alma, com o tempo ilumina-a e aquece-a como se fosse uma chama. A vida da alma é uma festa contínua do Espírito Santo, que deixa entrever a glória da união com Deus na eternidade.

A Subida ao Monte Carmelo apresenta o itinerário espiritual sob o ponto de vista da purificação progressiva da alma, necessária para escalar a montanha da perfeição cristã, simbolizada pelo cimo do Monte Carmelo. Tal purificação é proposta como um caminho que o homem empreende, colaborando com a obra divina, para libertar a alma de todo o apego ou afecto contrário à vontade de Deus. A purificação, que para alcançar a união com Deus deve ser total, começa a partir daquela da vida dos sentidos e continua com a que se alcança por meio das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade, que purificam a intenção, a memória e a vontade. A Noite obscura descreve o aspecto «passivo», ou seja, a intervenção de Deus neste processo de «purificação» da alma. Com efeito, o esforço humano sozinho é incapaz de chegar às profundas raízes das más inclinações e hábitos da pessoa: só os pode impedir, mas não consegue erradicá-los completamente. Para o fazer, é necessária a acção especial de Deus, que purifica radicalmente o espírito e o dispõe para a união de amor com Ele. São João define «passiva» tal purificação, precisamente porque, embora seja aceite pela alma, é realizada pela obra misteriosa do Espírito Santo que, como chama de fogo, consome toda a impureza. Neste estado, a alma é submetida a todo o tipo de provações, como se se encontasse numa noite obscura.

Estas indicações sobre as obras principais do santo ajudam-nos a aproximar-nos dos pontos salientes da sua vasta e profunda doutrina mística, cuja finalidade é descrever um caminho seguro para alcançar a santidade, a condição de perfeição à qual Deus chama todos nós. Segundo João da Cruz, tudo o que existe, criado por Deus, é bom. Através das criaturas, nós conseguimos chegar à descoberta daquele que nelas deixou um vestígio de Si. De qualquer modo, a fé é a única fonte confiada ao homem para conhecer Deus como Ele é em si mesmo, como Deus Uno e Trino. Tudo o que Deus queria comunicar ao homem, disse-o em Jesus Cristo, a sua Palavra que se fez carne. Jesus Cristo é o único e definitivo caminho para o Pai (cf. Jo 14, 6). Qualquer coisa criada nada é em comparação com Deus, e nada vale fora dele: por conseguinte, para alcançar o amor perfeito de Deus, todos os outros amores devem conformar-se em Cristo com o amor divino. Daqui deriva a insistência de são João da Cruz sobre a necessidade da purificação e do esvaziamento interior para se transformar em Deus, que é a única meta da perfeição. Esta «purificação» não consiste na simples falta física das coisas ou do seu uso; o que torna a alma pura e livre, ao contrário, é eliminar toda a dependência desordenada das coisas. Tudo deve ser inserido em Deus como centro e fim da vida. Sem dúvida, o longo e cansativo processo de purificação exige o esforço pessoal, mas o verdadeiro protagonista é Deus: tudo o que o homem pode fazer é «dispor-se», estar aberto à obra divina e não lhe pôr obstáculos. Vivendo as virtudes teologais, o homem eleva-se e valoriza o próprio compromisso. O ritmo de crescimento da fé, da esperança e da caridade caminha a par e passo com a obra de purificação e com a união progressiva com Deus, até se transformar nele. Quando alcança esta meta, a alma imerge-se na própria vida trinitária, e são João afirma que ela consegue amar a Deus com o mesmo amor com que Ele a ama, porque a ama no Espírito Santo. Eis por que motivo o Doutor místico afirma que não existe verdadeira união de amor com Deus, se não culmina na união trinitária. Neste estado supremo a alma santa conhece tudo em Deus e já não deve passar através das criaturas para chegar a Ele. A alma já se sente inundada pelo amor divino e alegra-se completamente nele.

Caros irmãos e irmãs, no fim permanece esta pergunta: com a sua mística excelsa, com este árduo caminho rumo ao cimo da perfeição, este santo tem algo a dizer também a nós, ao cristão normal que vive nas circunstâncias desta vida de hoje, ou é um exemplo, um modelo apenas para poucas almas escolhidas que podem realmente empreender este caminho da purificação, da ascese mística? Para encontrar a resposta, em primeiro lugar temos que ter presente que a vida de são João da Cruz não foi um «voar sobre as nuvens místicas», mas uma vida muito árdua, deveras prática e concreta, quer como reformador da ordem, onde encontrou muitas oposições, quer como superior provincial, quer ainda no cárcere dos seus irmãos de hábito, onde esteve exposto a insultos incríveis e a maus tratos físicos. Foi uma vida dura, mas precisamente nos meses passados na prisão, ele escreveu uma das suas obras mais bonitas. E assim podemos compreender que o caminho com Cristo, o andar com Cristo, «o Caminho», não é um peso acrescentado ao fardo já suficientemente grave da nossa vida, não é algo que tornaria ainda mais pesada esta carga, mas é algo totalmente diferente, é uma luz, uma força que nos ajuda a carregar este peso. Se um homem tem em si um grande amor, este amor quase lhe dá asas, e suporta mais facilmente todas as molésticas da vida, porque traz em si esta grande luce; esta é a fé: ser amado por Deus e deixar-se amar por Deus em Cristo Jesus. Este deixar-se amar é a luz que nos ajuda a carregar o fardo de todos os dias. E a santidade não é uma obra nossa, muito difícil, mas é precisamente esta «abertura»: abrir as janelas da nossa alma, para que a luz de Deus possa entrar, não esquecer Deus, porque é precisamente na abertura à sua luz que se encontra a força, a alegria dos remidos. Oremos ao Senhor para que nos ajude a encontrar esta santidade, deixando-nos amar por Deus, que é a vocação de todos nós e a verdadeira redenção. Obrigado!

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